As fases do desenvolvimento cognitivo e as provas piagetianas
- Patrícia Munhoz Psicopedagoga
- 16 de dez. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de dez. de 2020
Jean Piaget foi um dos pesquisadores mais influentes na educação. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança.
Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz - um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a ideia de que o aprendizado é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista.
O que Piaget descobriu em seus mais de 20 anos de pesquisa sobre a Epistemologia Genética é que o raciocínio do indivíduo passa por fases e evolui conforme recebe e processa os estímulos a que é submetido. Nesta pesquisa ele pontua quatro fases do desenvolvimento cognitivo:
O estágio sensório-motor vai até os 2 anos de idade, e se caracteriza pela descoberta das funções do corpo pela criança. É onde ela se apropria das capacidades que seu corpo tem e das funções que as partes oferecem.
O estágio pré-operacional vai dos 2 aos 7 anos e se caracteriza pelo surgimento da capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos. A criança continua egocêntrica e ainda não é capaz, moralmente, de se colocar no lugar de outra pessoa.
O estágio das operações concretas, dos 7 aos 11 ou 12 anos, tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e a
habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e número.
Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.
Nos anos 80, o pesquisador argentino Jorge Visca aprimorou ainda mais a pesquisa de Piaget e se aprofundou em três linhas de pesquisa, a psicologia social, a psicanálise e a epistemologia genética. Surgindo daí seus estudos sobre a Epistemologia Convergente.
A Epistemologia Convergente procura compreender a contribuição dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio sócio educacional, no processo da aprendizagem do indivíduo e as possíveis dificuldades apresentadas, tendo como base, a integração dos conhecimentos da psicologia genética, da psicanálise e da psicologia social.
Visca, é considerado também o pai da Psicopedagogia, sendo um dos principais articuladores da profissão!
Muitas vezes durante a nossa prática no consultório aplicamos o conjunto de provas de diagnóstico operatório, que nada mais é do que um conjunto de provas elaboradas com base nas pesquisas desses dois estudiosos. As provas operatórias podem indicar que o sujeito investigado encontra-se num estágio de desenvolvimento cognitivo, segundo Piaget, abaixo do esperado para sua idade cronológica; fato que pode explicar muitos fracassos escolares, posto que é cobrada desse aluno uma aprendizagem de conteúdos para a qual ele ainda não está pronto cognitivamente.
As provas piagetianas são importantes também no processo interventivo psicopedagógico. “As informações que colhemos com a aplicação das provas operatórias servem de base para a elaboração de um projeto de intervenção”, pois contribuem para que o psicopedagogo compreenda “onde estão as lacunas e pontos falhos da atividade lógica. Em consequência, ele saberá que operações, que tipo de estruturas, que noções, deste ou daquele domínio de conhecimento, deverá construir com a criança”.
A aplicação é simples e inserida em um cenário lúdico para que a criança não se sinta coagida ou pressionada, o objetivo é descobrir como ela formula seu raciocínio e modula suas respostas, geralmente, são feitas em duas sessões para que não haja contaminação nas respostas.
As provas piagetianas são importantes também no processo interventivo psicopedagógico. “As informações que colhemos com a aplicação das provas operatórias servem de base para a elaboração de um projeto de intervenção”, pois contribuem para que o psicopedagogo compreenda “onde estão as lacunas e pontos falhos da atividade lógica. Em consequência, ele saberá que operações, que tipo de estruturas, que noções, deste ou daquele domínio de conhecimento, deverá construir com a criança”.
Referências Bibliográficas
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987
VISCA, Jorge. Técnicas Projetivas Psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. Buenos Aires: Visca & Visca,2008.
VISCA, Jorge. O Diagnóstico Operatório na prática Psicopedagógica. São José dos Campos:
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/568/das-provas-operatorias-a-construcao-de-estruturas-cognitivas--um-estudo-de-caso-em-psicopedagogia
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